Quais foram as piores frases que já ouvi?
janeiro 16, 2019
Ter diabetes é sinônimo de
ouvir muitas frases bizarras. Pode perguntar pra qualquer diabético, é quase
como se fosse um ritual: a pessoa descobre que você tem diabetes e pronto, já
fala uma besteira.
Já escutei muita coisa,
algumas vezes fiquei com raiva, outras eu relevei. Mas nunca respondi ninguém
mal, educação pra mim vem sempre em primeiro lugar.
E quais foram as piores frases
que já ouvi?
Vem comigo que te conto!
>>> Você já deve ter sido gorda
né? Porque todo mundo que eu conheço que tem diabetes é gordo!
Não sei de onde a pessoa tirou
essa conclusão. Eu estava dentro de uma loja, no provador experimentando uma
roupa. Pedi ajuda à vendedora para fechar o zíper nas costas do vestido. Ela
viu a bomba, perguntou o que era, eu respondi de forma objetiva e ela soltou
essa pérola.
>>> Quando o rapaz que vende
algodão doce passa aqui na rua, eu já falo com ele: para de me vender diabetes!
Gente, essa foi uma das frases
que escutei e realmente fiquei com raiva, porque isso pra mim é muita falta de
senso, é a pessoa ter zero informação sobre o que é diabetes e sair falando
esse tipo de besteira, como se fosse uma piadinha legal, ironizando, quando na
verdade ela não tem a mínima noção do que é ter diabetes, do que uma pessoa com
diabetes enfrenta todos os dias, além de passar uma impressão de que é uma
doença contagiosa, que você “pega” de algum lugar. Não gostei!
>>> Porque sua pele não é toda
manchada?
Essa é bem curiosa. Não é o
tipo de pergunta que eu ouço a todo tempo, aliás, ouvi apenas uma vez, mas foi
uma das que ficou na minha cabeça. Essa frase eu ouvi de uma senhora que também
tinha diabetes. Ela era tipo 2, porém mal controlada, até já aplicava
insulina. Acontece que nem ela e nem a família dela tem zelo pelo tratamento da
doença, isso faz com que as aplicações com seringa de insulina que ela ou os
filhos fazem, machuque a pele, manchando o local. Se você aplicar insulina nos
mesmos locais sempre, se não trocar a agulha de forma constante ou se não usar
a agulha apropriada, isso interfere no tratamento, interfere na aplicação e na
cicatrização daquele furinho que você fez em sua pele. Por isso a pele daquela
senhora era toda manchada e ela se espantou quando eu disse que tinha diabetes,
usava insulina e minha pele não era toda manchada como a dela.
>>> Por que tem que ser
refrigerante zero se você está comendo brigadeiro?
Essa pergunta geralmente surge
nas festinhas. E eu entendo, eu era essa pessoa que falava: nossa a pessoa tá
comendo um sanduíche x-tudo com coca zero, não vai adiantar nada. Acontece que
hoje eu tenho informação suficiente sobre contagem de carboidratos para
entender que comer 2 brigadeiros de festa não é a mesma coisa de beber 2 copos
de refrigerante comum. Não bebo mesmo, se tem a versão zero açúcar eu não vou
aplicar “litros de insulina” para beber um refrigerante comum, que tem
muuuuuito açúcar.
>>> Nossa, que dó, tão novinha. E
você nem tem cara de quem tem diabetes!
A famosa “cara de diabetes” e
as pessoas errando minha idade, de forma constante.
>>> Então você não pode comer doce
né?
Essa é clássica. Escuto a todo
tempo, principalmente em lugares onde não convivo. Inclusive, na empresa onde
trabalho, em toda festa de fim de ano, fazemos inimigo oculto. Um rapaz, que
havia entrado na empresa há poucos dias, me tirou nesse inimigo oculto. Sabendo
que eu era diabética, ele me deu dois pacotes de bala de goma, achando que
estava me sacaneando, afinal, diabético não pode comer doce, né?! Quando eu
abri o presente e todos viram as balas, todo mundo caiu na gargalhada, contando
pra ele que eu como balas sim, sem problema, que eu aplicava insulina para
isso.
>>> Moça, tem uma tampinha grudada
no seu braço!
Famoso Freestyle Libre! Haha.
Em praticamente todos os lugares eu escutava isso: fila de supermercado,
recepção de empresa, padaria, na rua, festas… Inclusive, em uma festa de
casamento, eu estava na fila para pegar um drink, quando uma pessoa que estava
atrás de mim puxou o meu sensor, que estava no braço. Eu puxei o braço e dei um
grito: “Ei!”. E a pessoa, toda desconcertada falou: “Nossa, achei que era uma
tampinha grudada no seu braço.” Mais uma pessoa sem noção.
Essas frases são só alguns
exemplos de como temos que exercitar a paciência e a empatia, que a capacidade
de se colocar no lugar do outro. Nem sempre é fácil para nós diabéticos escutar
essas baboseiras, mas é preciso lembrar que nem todos têm acesso à informação,
nem todos querem receber informações e muitos não estão nem aí mesmo.
E eu digo isso com muita
propriedade, pois minha avó tinha diabetes tipo 2, em uma época que eu não era
diabética. E eu nunca procurei me informar, saber o que era, como cuidar, nada!
Mas independente disso, eu acho
que temos que continuar disseminando informações corretas sobre o diabetes,
apoiando e dando suporte. É totalmente possível viver bem tendo diabetes e essa
é a mensagem mais importante e que deve ser amplamente comunicada.
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